sábado, 7 de dezembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 8

                Novembro nem acabou e a cidade já está enfeitada para o natal. Da janela do Voyage vejo famílias já no clima festivo – O natal para mim é uma data muito especial, mas esse ano será esquisito, porque minha mãe não vai estar comigo para decorar nossa árvore.
                Não posso deixar que a saudade afete meu humor, não quando ao meu lado tem um garoto hilariante que não parou de contar piadas desde a hora que saímos de casa.
                – Adivinha essa! “O que fazer para um passarinho extravasar em risos?” – Perguntou Lucas, já rindo antes do desfecho da piada.
                – Essa é fácil! Chamamos você pra contar piadas de aves! – Ironizei.
                – Pode ser, mas a resposta não é essa – Ele olhava a rua esperando a resposta.
                – Sei lá! Conta aí!
                – Ok! Para um passarinho extravasar em risos você só precisar jogar ele na parede... O bichinho vai “rachar o bico” – O garoto com certeza estava forçando a gargalhada... A piada nem era tão boa assim – Entendeu? “Rachar o bico”.
                Enquanto ele ficava tagarelando sobre as origens de suas piadas eu fitava a brilhante noite dos pisca-piscas. Lembrei-me do natal do meu decimo quinto aniversario que ele passou comigo e minha mãe – Não sei o que Lucas gostava tanto em Peruíbe que fazia com que ele fosse pelo menos uma vez por mês nos visitar... Só sei que era muito reconfortante tê-lo conosco, nós duas nunca nos sentíamos sozinhas.
                Lucas mesmo com seu jeito brincalhão nunca deixou a maturidade. Assim que terminou o colégio entrou na faculdade de Direito e sem que Ricardo soubesse, o filho conseguiu um estagio como assistente júnior na empresa onde pai é presidente.  O garoto não queria ser beneficiado, fez todas as etapas como qualquer jovem faria para tentar entrar, assim ele não seria jugando por ter conseguido a vaga por causa da influência do pai.  Lucas não parece fazer as coisas pensando em agradar a todos, mas seu carisma e serenidade são tão notórios que é difícil não sorrir quando ele está perto.
                – Beck! Vamos? Chegamos! – Diz Lucas, interrompendo meus devaneios.
                Ele me fitava com aqueles olhos convidativos de sempre e sorria pra mim com toda meiguice que tens – Me Tremi inteira.
                O manobrista levou o carro para o estacionamento, Lucas segurou minha mão e me levou para a entrada do estabelecimento, notei que ele puxava uma case e carregava no ombro um estojo de guitarra, certamente ele pegou esses objetos enquanto em enrolava para sair do Voyage.
                – Hoje é um grande dia pra mim... Por isso eu trouxe você comigo, espero que goste – Ele fitava o gigantesco luminoso que estava escrito, O Bar Vikings, ele estava hipnotizado.
                O bar estava localizado no centro de São Paulo, na esquina de uma avenida muito movimentada, a Vikings pegava quase um quarteirão inteiro... Com certeza não precisa ser adivinho para julgar que O Bar Vikings é para clientes acostumados a pagar 100 ou 150 reais numa dose de uísque... Ou até mais.
                Um grupo de rapazes acena para Lucas, ele reconhece os rostos e vai de encontro.
                Minha cabeça está um turbilhão... Juntemos os fatos. Lucas me leva para um bar no centro da cidade com uma case e um instrumento, depois encontra mais três garotos com mais equipamentos, com certeza o encontro deles foi premeditado. Qual parte de sairmos juntos eu ainda não entendi?
                – Beck! Vem aqui! – Veja só! Eu ainda não estava invisível.
                Aproximei-me do Lucas, mas não tão perto, eu estava evitando especulações sobre existir um vinculo entre nós dois, um vinculo intimo demais.
                – Quero que você conheça a banda... Rock Urbano!
                Ele começou pelo gordinho.
                – Esse é nosso baterista, Guto, o magricela e o Ramon, vulgo Tripa Seca nosso baixista... “E o quatro olhos” é o Barata...
                – Por que Barata? – Perguntei para sujeito de cabelos enferrujados, mas foi Lucas quem respondeu.
                – É porque ele tem certo desafeto com esses insetos tão... Incompreendidos, Não é mesmo Batata meu filho? – Lucas apertava a bochecha do menino tímido.
                – E o que você faz na banda, Barata? – Mas uma vez Lucas foi intrometido.
                – Ele fica na percussão.
                – Obrigado Lucas, mas se continuar respondendo pelo Barata vou pensar que o garoto e mudo – Fingi estar seria, mas não consegui conter o riso quando notei a careta de Lucas que logo sorriu para mim com uma intensidade mais desconcertante.
Os garotos estavam rindo juntos e nesse contratempo Guto deixou escapar:
                – Tenta ficar frio Lucas... Porque você está queimado.
                Lucas deu uma chave de braço no gordinho e beijou sua bochecha redonda.
                – Gordinho gostoso! – Lucas brincava com Guto que correu para o lado dos outros companheiros.
                Eu não percebi que estava rindo de novo, Lucas realmente tinha o dom de fazer as pessoas ao seu redor ficarem felizes... E era olhar nos olhos das pessoas para ver o carinho que todas tinham por ele. Lucas é muito querido.
                – E você, Princesa? Qual é o seu nome? – Quem perguntava era Ramon, o baixista da “Rock Urbano” que se deslocou do grupo para falar comigo.
                – Vamos combinar uma coisa? Vamos deixar a “Princesa” no castelo dela... Então deixo você me chamar de Rebeca. Tudo bem? – Particularmente eu não gosto que me titulem de “Princesa”, “Mina” ou “Garota”, mesmo que a pessoa não tenha a intenção... Para mim esses substantivos soam arrogantes.
                – Gostei! Isso mostra que você tem atitude... Admiro “pacas”.
                Estou aliviada por Ramon ter entendido, pois não tenho a intenção de jogar um balde de água fria nesse clima tão legal. Para provar isso eu arrastei ele para mais perto do grupo, mas os garotos já estavam com o clima alterado.
                – Ele não atende – Disse Lucas preocupado.
                – Tenta de novo! – Insiste Guto.
                – Eu já tentei, mas cai na caixa postal.
                – O que houve? – Ramon tira as palavras da minha.
                – Flavio não atende o celular, não avisa se vai atrasar e a única coisa que eu sei é que temos somente vinte minutos para começar.
                – Já tentou ligar na casa dele – Pergunta Ramon.
                – Estou tentando, mas também não atende – É Guto quem responde.
Os garotos estavam tensos, Lucas andava de um lado para o outro com o celular na orelha – Impulsivamente seguro o braço dele e em resposta ele me fita desajeitado.
                – O que está acontecendo? – Eu já tinha ideia do que estava rolando, mas eu precisava desacelerar Lucas.
                – Desculpe. Tudo isso era para ser uma surpresa... Este bar é de um cliente muito importante do meu pai, quando eu percebi que havia shows ao vivo aqui pedi a ele que desse uma oportunidade para a nossa banda se apresentar. Disse a ele que não precisava pagar, pois a intenção era mostrar nosso trabalho...  Como amigo da família ele não pensou duas vezes ao aceitar...
                Lucas deu uma pausa para recuperar o fôlego.
                – Acontece que o Flávio, o nosso vocalista, ainda não chegou e não podemos nos apresentar sem um vocal... Às vezes o Barata faz a segunda voz, mas nada que se compare...
                É claro que Lucas esperava uma alternativa, mas a única coisa que eu consegui pensar foi em tranquiliza-lo, mesmo que fosse temporariamente.
                – Flávio com certeza deve estar preso no trânsito, isso e tão comum acontecer, não é mesmo? – Lucas deu de ombros – Por que você não entra com meninos e vão montando tudo? Assim que Flávio chegar... Já vai estar tudo pronto.
                Dito e feito, os garotos estavam mais confiantes na ideia que eu plantei – Espero estar certa.
                Confesso que esperava um passeio mais tradicional, como ir ao cinema, fazer um tour pela cidade ou até mesmo tomar um cafezinho na padaria, mas ajudar ele a preparar os instrumentos no palco era o lugar onde eu deveria estar.
                Os minutos estavam passando e Lucas não conseguia disfarçar o nervosismo, foi quando Guto apareceu e disse sem nenhum suspense.
                – Tenho más noticias, Flávio pegou uma virose e não virá, ainda está no hospital tomando medicação... O que faremos agora?
                Lucas deixou o que estava fazendo e levou as mãos para a cabeça soltando um logo suspiro.
                – Não podemos fazer o show sem Flávio... Imprevistos acontecem, a gente tem que aprender lidar com isso.
                Quem Lucas queria enganar? O grupo estava decepcionado, até pude ouvir alguém dizer algo sobre “desistir dessa palhaçada”, mas como podem pensar assim? Desistir só porque não tem um vocal? Eu mesma poderia substituir Flávio...
                É claro! Eu podia fazer isso, até fiz isso uma vez no colégio... É claro que hoje o publico é outro, mas não deve ser tão diferente, não é mesmo?
                A minha ideia pode ser uma maluquice, mas é a única que eu tenho para tentar salvar o show.
                Eu estava tão presa ao meu pensamento que não percebi que Lucas estava pronto para anunciar o cancelamento da apresentação, mas foi o choque de adrenalina que me impulsionou para falar.
                – Eu posso cantar – Minha voz saiu tão baixa que ninguém me ouviu – Eu posso cantar gente – Será que ninguém está me ouvindo – CALEM A BOCA DROGA! – Agora eles estavam me ouvindo.
                Ele veio a mim e acariciou meu rosto, Lucas estava sereno de novo.
                – Beck, não chore – Que Droga! O que esta lagrima está fazendo aqui.
                – Me solta! – Livrei-me bruscamente das mãos de Lucas e descarreguei minhas palavras – Escutem, não cancelei o show... Eu posso cantar...
                – Mas... – Começou Ramon.
– Mas nada! Confiem em mim, vocês não tem alternativa.
A verdade é que eles tinham uma segunda alternativa... Poderiam cancelar a apresentação, mas Lucas queria tanto que esse show acontecesse, olhos dos meninos brilhavam tanto que... Eu não tive alternativa. Eles não precisavam acreditar em mim, pois eu mesma não estava tão confiante, mas acreditaram e agora eu tenho que valer minha promessa. Que comesse o show.
Lucas me mostrou a lista do repertório, tive a sorte de conhecer cada faixa e os garotos me deixaram a vontade para organizar as canções, então eu escolhi começar com uma que poucos conhecem... Mas que para mim é um hino, hino que cantei frente ao espelho no dia que resolvi mudar. “Playing God” (Brincando de Deus) do Paramore.
Ramon começou a tocar as primeiras notas e eu já estava de olhos fechados, mentalizando a canção da minha redenção, me preenchendo de fé, me completando. Abri os olhos e comecei a cantar.
Eu sabia que uma multidão estava me fitando, mas e daí, eu estava cantando com uma banda de verdade... Com garotos legais pra caramba... Com o Lucas, que conseguiu me proporcionar a melhor noite de todas.
Terminei a canção. Não estava sonhando, o alvoroço era para nós, estavam nos aplaudindo...
– Você conseguiu! Você Conseguiu! – Lucas me apertava em seus braços, à eletricidade de seu corpo me arrepiou.
– Nós conseguimos... Todos nós – Eu o lembrava.
Lucas estava emocionado, ele libertou as mãos de minha cintura, pegou o microfone e falou.
– Olá pessoal, hoje está sendo a melhor noite da minha vida, pois consegui reunir meus melhores amigos, meus melhores parceiros para concretizar um sonho que estava preso dentro de uma garagem... Estamos felizes, estamos realizados, sim, estamos, mas a banda a de convir comigo que isso não teria acontecido se essa mocinha aqui... – Lucas pegou na minha mão e me levou para o meio do holofote –... Não tivesse, com sua coragem, nos arrastado para esse palco e mostrado, não só para vocês como também para nós, o talento grandioso que tens. Por isso é com orgulho que eu apresento a todos vocês... A nova integrante da Rock Urbano a minha... Prima, Rebeca!
O susto foi inevitável, mas logo Lucas vai caí na real. É melhor eu esquecer o que ele disse e terminar logo esse show, pois a única coisa que eu quero agora e botar minha cabeça no travesseiro e dormir.

FIM DO CAPITULO 8



terça-feira, 26 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 7

                São cinco e meia da manhã, Sandra me avisou que acordaríamos cedo, só não sabia que seria tão cedo, até o sol está dormindo, mas tudo bem; vamos lá, vamos levantar. Hoje será um grande dia, disse minha tia, irei trabalhar com ela no Buffet, rodaremos a cidade para visitar algumas clientes importantes e voltaremos somente ao entardecer. Ainda bem que o dia será de sol, assim afirma a simpática apresentadora do telejornal.
                A um grande tumulto nos corredores de casa, é Lucas gritando para Carlinhos sair logo do banheiro, Ricardo perguntando a Sandra onde ele deixou a gravata, Sandra vestindo sua camisa enquanto faz o café da manhã, depois gritando para Carlinhos não enrolar no banho e mostrando que a gravata de Ricardo está no pescoço dele. Agora eu entendo o porquê de acordar tão cedo.
Peguei a espátula da mão de minha tia e terminei de fritar os ovos, de passar o café e de espremer o suco de laranja do Carlinhos, com isso Sandra pode terminar de se vestir. Estava terminando de arrumar a mesa quando Lucas apareceu e me beijou na bochecha.
– Beck! Você pode me ajudar? – Ele estendeu os dois braços para que eu abotoasse os botões da manga.
– Vai a algum culto vestido assim?
– Quase isso! Apresentação do TCC! – Ele levou a brincadeira na esportiva.
– Vai se formar em quê?
– Direito – Ele não parecia empolgado.
– Pensei que queria ser músico? – Lembro que ele me falou sobre isso numa noite, depois do jantar em uma das muitas vezes que ele nos visitou em Peruíbe.
– Eu não desisti da música, Direito é só um... Adicional.
Enxuguei as mãos em um pano de prato e comecei a abotoar a primeira manga. Dei uma olhadela para ele e, lá estava seu sorriso discreto e seus lindos olhos me fitando – Lucas é tão alto que minha cabeça não passa de seu peito que por sinal... Está perto demais.
– Pronto! – Disse me afastando de seu delicioso perfume.
– Falta a outra! – Lembrou-me com aquele sorrisinho de novo.
Puxei seu braço pela manga da camisa com certa rudeza e abotoei, arquejando e fitando seu rosto debochado.
– Não falta mais.
Virei às costas para Lucas e fiquei trocando os objetos na mesa só para parecer que eu estava ocupada de mais para dar atenção, mas ele continuou parado, até que começou.
– Não acredito! Morangos! Eu adoro morangos!
Ele pegou dois morangos e abocanhou metade de um.
– Está uma delicia, coma um! – Ele empurrava o outro morango que pegou para minha boca.
– Agora não, vou esperar os outros.
– Qual é o problema Beck? Tem uma caixa cheia, ninguém vai se importar se você comer um antes.
– Está legal! Só um e você me deixa em paz! Ok?
Lucas era um idiota, fez aviãozinho com a fruta e depois puxou de volta.
– Espera! Vou colocar um pouco de mel, isto vai ficar uma delicia – O garoto ria como um perfeito idiota mesmo – Mmmm! Agora sim! Abre o bocão.
– Acaba logo com isso!
– Quietinha! – Eu não acredito que ele estava fazendo isso, sério...
A idiotice do aviãozinho de novo e o obvio aconteceu, o babaca não me deu o morango e engoliu a fruta de uma só vez.
– Eu tinha razão, estava uma delícia – Lucas dava gargalhadas.
– Há, há, há. Que engraçado juro que vou rir até amanhã.
– Pode ser, mas eu tenho uma ideia melhor – Agora ele coloca as mãos na minha silhueta. Meu corpo tremeu.
– Esteja bem bonita hoje à noite, vamos sair.
– Não acho que seja uma boa ideia! – O que será que ele está aprontando? Não confio nele, só penso no dia em que ele contribui com a piada de mau gosto daqueles moleques patéticos.
 – Quem disse que é um pedido? – Ele não me deu a chance de resposta, simplesmente virou as costas e saiu.
Eu não demorei em me arrumar, coloquei meu All Star preto de cano longo, uma saia colegial de listras vermelhas e pretas e uma camiseta, também preta sem estampa. Deixei meus cabelos soltos e úmidos e fiz minha maquiagem de costume.
Lucas pegou carona com o pai – Vendo um ao lado do outro eu não sabia dizer qual dos dois era o mais bonito, pois mesmo Ricardo tendo seus quarenta e poucos anos, ninguém diria que ele é o pai de Lucas, no máximo diriam que é um irmão mais velho – Eles entraram no carro, mas antes de partir Lucas disse “Não esqueça o que eu te disse”.
                Realmente não consegui esquecer o atrevimento de Lucas, toda vez que me lembro do convite começo a rir para eu mesma como uma boba alegre... Como uma garotinha apaixo... Não quero nem pensar nessa palavra, nem vou pensar nessa palavra. Tenho sorte que a Sandra tem muita coisa pra fazer e consequentemente eu também.
                Deixamos Carlinhos no colégio, depois fomos direto para o Buffet – Sandra já tinha seis filiais espalhadas pela capital, mas fomos para a matriz aqui mesmo no Alphaville – Ela me disse que  acertou em cheio quando escolheu trabalhar com eventos, ela não quis dizer quanto lucra, mas ouvi uma recepcionista no telefone dizer para um cliente que só tem agendamento disponível para daqui um trimestre, o mais incrível é que o cliente aceitou e fechou uma festa infantil por 20 mil reais. Em menos de uma hora a recepcionista fez no mínimo cinco agendamentos o ultimo foi um casamento que custou no mínimo 100 mil reais.
                Difícil de acreditar, mas as pessoas aqui gastam muito dinheiro só pra alimentar as lombrigas dos playboyzinhos. É hipocrisia eu falar já que agora eu faço parte do mundo deles. Só espero não me tornar uma alienada como muitos... Terei sempre que me lembrar de quem eu sou e o que realmente importa pra mim.
                Prosseguimos com nossas tarefas, encontramos quem tínhamos que encontrar, conversamos, quer dizer, Sandra conversou, porque como sempre minhas roupas causaram repulsa nos olhos dessa socialite metida a besta, mas eu não estou nem aí com essa gente, só quero ser uma ótima companhia para minha tia e ponto final.
                O dia realmente foi cansativo, mas eu não podia nem pensar que ele acabou já que a noite ainda iria começar. Poderia dizer a Lucas que estou muito exausta e então cancelar o compromisso, “só que não”, preciso dessa noite, não que Lucas tem haver com alguma coisa porque ele não tem. Sou uma pessoa movida à música, a uma multidão de pessoas completamente desconhecidas que não querem nem saber como o resto do mundo está ou como vai ser quando o novo dia começar. Que o mar pegue fogo para eu comer baleia assada, hoje todos meus martírios vão ficar em casa.
                – Você está linda Beck! – Disse Lucas.
                Nisso eu tinha que concordar, eu estava linda, não porque eu estava me sentindo ótima no meu jeans básico, na minha Baby Look branca como uma estampa multicolorida, e aquele All Star branco que rabisquei qualquer coisa que não faz sentido pra ninguém, mas pelo fato de que pela primeira vez depois que minha mãe se foi, eu estou me sentindo livre de verdade, aceitando o que aconteceu esses últimos meses. Sempre vou sentir saudades da minha mãe, mas só vou lembrar as coisas boas que a gente viveu, pois sinto que estando em paz, mesmo com a ausência dela é como se eu tivesse libertando ela pra ficar em paz nos céus.
                 Eu te amo mãe... E sei que nunca ficarei sozinha.
                Lucas não diz mais nada só me estende a mão, que diz muita coisa.
                “Vem que eu te protejo”
                Eu agarro a mão dele com toda firmeza e deixo que me leve.


FIM DO CAPITULO 7


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 6

Está um dilúvio lá fora. Passei a manhã colocando as coisas no lugar, o quarto de hospedes ficou pronto graças ao Lucas que fizera isto enquanto eu visitava Peruíbe. Sandra não pediu isso a ele, pois ela comentou algo sobre nós duas trabalharmos nisso - Será que o menino está tentado me impressionar? – Não tive tempo de vê-lo ainda... É até estranho falar isso já que somente um andar divide a gente, mas Lucas não é do tipo que para em casa, contudo não o vi sair do quarto hoje, nem pra tomar café. Talvez eu faça uma visita, assim eu retribua o favor.
Tomei a liberdade de passar um café, pensei, já que vou ficar de molho em casa que seja com uma caneca bem cheia e um ótimo som do meu violão. Apesar do tempo eu ainda não esqueci como se toca.
Havia uma canção que minha mãe sempre me pedia para tocar, True colors, Cyndi Lauper, modéstia parte eu decorei a musica em dois dias porque além da minha mãe , eu também adorava! Ela sempre chorava quando eu cantava o refrão... Planejei cantar uma última vez no enterro dela, mas eu tinha perdido a voz naqueles dias de tanto que  gritei por ela em seu leito quando ela me deixou.
Droga! Tocar era para ser uma coisa boa em um dia cinza como o de hoje, desanimei.
Ricardo está esparramado no sofá dando risadas de uma serie na TV, completamente distraído com o conteúdo do programa e as piadas do apresentador, talvez não seja uma boa ideia eu interrompe-lo com um diálogo mesmo a gente não ter tido nenhum desde o dia que cheguei.
Sandra tirou o dia para ficar com Carlinhos, o garoto tem passado a semana em uma carência peculiar da idade dele, saíram ainda quando era alvorada. Achei justo ela não ter me convidado, eu mesmo no lugar dele não ficaria a vontade, mas confesso que Sandra se tornou pra mim uma companhia agradável, hoje nossas conversas seria um ótimo isolante para minha solidão. Vou ter que improvisar.
Passei despercebida por Ricardo e fui para cozinha, joguei uns biscoitos de chocolate dentro de uma pequena travessa e corri para o primeiro andar, ainda despercebida.
O quarto não estava silencioso como eu imaginava... Estilhaços de vidros, sirenes de viatura e gritos de pessoas eram os sons anasalados que saiam do quarto – Chamei juro que chamei, mas ele não atendeu – Meu pulso já estava sentindo o peso da travessa, a porta estava destrancada então entrei.
– Oi? – Eu poderia ter sido melhor.
Lucas deu uma olhadela para mim e rapidamente pausou o jogo na sua TV de 50 polegadas.
– Oi! Está tudo bem? – Lucas me fitava com seus olhos cinzentos sem desviar o olhar, estava completamente a vontade com sua bermuda preta, sua camiseta regata, seus pés descalços no carpete e seus cabelos castanhos arrepiados.
– Pode me ajudar? – Eu me referia à travessa que escorregava da minha mão.
O garoto pegou o objeto como se fosse uma pena e colocou em cima da sua cama.
Estou vermelha... E quando eu fico assim começo a tagarelar.
– Está explicado o barulho de estilhaços, sirene...
– O quê? – Lucas estava boiando.
– O jogo... É muito bom – Ele nem estava mais olhando para a TV.
– Você conhece o jogo? – Pergunta ele.
– O quê? Resident Evil? Você está brincando, esse eu zerei em 5 horas – Está aí, algo que eu faço tão bem quanto tocar violão.
– É impressionante, não conhecia esse seu lado... Como é mesmo? Rebeca! – Lucas deixou escapar um singelo sorriso como se tivesse uma piada muito boa em seu pensamento.
Não respondi, fitei a TV e fiz o personagem do jogo decepar a cabeça do zumbi com um tiro fatal.
– Eu estava errado naquela noite na varanda... Não importa o nome que você adotou ou as vestes que você escolheu usar, eu olho pra você e ainda vejo a mesma garota, nada mudou é só a antiga Ana procurando uma forma de se alto imunizar do que virá em diante. A pergunta é “Pensar em mudar os velhos hábitos vai ajudar?”.
O zumbi pegou e estraçalhou o herói, isso não teria acontecido se as palavras de Lucas não tivessem me perturbado.
– Você morreu!
Que merda ele está falando? Será que é tão difícil de entender que eu escolhi ser chamada de Rebeca pelo fato de que como Ana eu me sentia medíocre? Se para as pessoas minha escolha reflete como uma fragilidade psicológica então eu só tenho uma coisa pra dizer... Dane-se!!!
Realmente... Não quero me imunizar de nada, pois não acho que eu venha aprender algo estando imune a elas, mas eu não preciso dizer isso a Lucas.
– Foi uma distração, mas não vai acontecer de novo, garanto – Roubei um biscoito na travessa e reiniciei o jogo.
– Hey! Pensei que os biscoitos fossem pra mim.
– Eu também! – Estávamos rindo juntos.
Hoje não é um dia para mexer no passado, quero que o garoto ao meu lado seja apenas o Lucas de cabelos arrepiados que sorri com minhas caretas enquanto jogo.
– Está aprendendo seu “Nub”?
– Nub? – Juro que ele não sabia.
– É como eu chamo os principiantes.
Estávamos nos conhecendo de novo e redescobrindo nossas qualidades, mostrei a ele como joga e ele retribui me mostrando como acertar o tempero do molho da lasanha que ele fez para o almoço.
Dividimos o sofá com Ricardo e passamos o resto da tarde assistindo TV e rindo das piadas sem graça dele.
Já era crepúsculo quando Sandra chegou, o sorriso de Carlinhos ia de uma bochecha a outra, ele sentou entre Lucas e eu tagarelando as novidades que encontrou no passeio e minha tia cedeu ao beijo de Ricardo como uma trégua.
– O que temos para jantar? – Pergunta Sandra.
Aqueles mesmos olhos cinzentos de hoje cedo olhava novamente para mim com toda intensidade. Eu tremi.
– Beck! – Havia um sorriso cínico em Lucas – Topa aprender fazer pizza?
– Agora eu sou Beck? – Lucas deu de ombros – Bora!

FIM DO CAPITULO 6



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 5

                Dia de sol, quase esqueci como era com toda essa semana de chuva. Sandra e eu concordamos que não tem nada melhor do que um dia de céu azul principalmente hoje que decidimos ir para Peruíbe. Tem algumas coisas na minha casa que eu preciso, e minha tia ficou de apanhar uns documentos para finalizar minha transferência para minha nova escola e outros sobre os bens que minha mãe deixou.
Conversamos muito sobre diversos assuntos, mas ela não comentou nada sobre sua discussão da noite passada, ela parecia ocultar fácil às coisas que a aborrecia - Queria ser forte como ela - Confesso que eu queria saber o que Ricardo fez de tão inaceitável que minha tia não queria que fizesse de novo – No fundo eu já sei, mas não é problema meu, preciso sempre me lembrar disso.
Tudo fluiu perfeitamente nem notei que já estávamos na pacata cidadezinha turística. É época de temporada, as ruas como de costume estão abarrotadas de turistas, o som dos carros são altos – Gosto dessa alegria é uma energia muito boa.
Passamos primeiro na escola, a diretora Carmem demorou pra me reconhecer, mas não a culpo, pois mudei meus longos cabelos castanhos escuros e ondulados para um curto preto e liso, fiz um fino contorno nos olhos com lápis preto e destaquei os cílios com rímel, escondi meus olhos acinzentados atrás das lentes de contato castanho escuro e coloquei um discreto piercing de argola no nariz.
A senhora já de idade não pareceu aprovar minha escolha, me olhou de em cima abaixo, mas sem repulsa.
Deixei as mulheres conversando e fui comprar uma soda limonada o ar estava muito quente e abafado. Enquanto pegava o dinheiro na bolsa os alunos começavam a lotar o pátio foi quando eu a vi do outro lado, sentada sozinha, devorando um gigantesco sanduíche, era ela, Fátima Burd, minha melhor amiga.
Queria falar com ela, mas a ultima vez que nos falamos nossa conversa não foi muito legal, mas a culpa foi minha, fui egoísta e descontei meus problemas nela. Fiquei pensando se teria outra oportunidade de me desculpar com Fátima, conclui que não, pois depois dessa viajem não pretendo voltar aqui tão cedo.
Atravessei o pátio e me sentei na frente dela, mas ela foi agressiva.
– Não tem outro lugar para você sentar pirralha? – Fátima foi mais uma que não me reconheceu
– Não tem Fatinha – Eu era a única que chamava ela assim.
A garota robusta de sardas me fitou e antes que eu pudesse fazer algo ela me esmagou no seu abraço e encharcou meu ombro com suas lágrimas.
Por que ela fez isso? Não está certo, fui estupida e nojenta com ela, se tivesse me esbofeteado eu teria entendido, mas isso...
– O que você está fazendo Fatinha? Ridicularizei você na frente de todos não se lembra?
A garota soltou os braços de mim e se recompôs.
– Eu não vou mentir. Na mesma noite, depois que Lucas fez aquela brincadeira de mau gosto e tudo que você me falou diante de todas aquelas pessoas da escola eu cheguei em casa e comi tudo que tinha na minha frente, faço isso quando estou deprimida...Enfim, depois você não atendeu minhas ligações, não foi mais a escola então fiquei pior e continuem comendo como uma louca até que parei na UTI, quase destruí meu fígado. Hoje estou melhor!
– Mas e agora o que está acontecendo? – Eu fitava o sanduíche dela que parecia mais uma bomba relógio.
– Estou muito nervosa com as provas finais – Talvez não tivesse graça, mas rimos juntas com a situação.
– Fatinha me perdoe por tudo?
– Somos amigas não é verdade? Amigas sempre perdoam... Então está perdoada! Contudo eu te devo desculpas, não fazia ideia que o Lucas faria aquilo, só fiz o que ele me pediu, avisar você de encontra-lo, acredite em mim!
– Eu acredito! – No dia eu estava cega de raiva por isso não considerei as coisas que Fatinha disse.
Tínhamos muitas coisas pra falar, mas o tempo era curto, trocamos telefones e nos despedimos, foi difícil conter a emoção.
Sandra me deixou em casa e correu para o cartório para economizar tempo, pois tínhamos que voltar para São Paulo no mesmo dia, sabendo disso eu peguei somente alguns objetos, como o porta retrato da minha mãe e o violão que meu pai me deu no meu decimo segundo aniversario, deixei para traz as roupas, quem ficaria com toda aquela velharia?
Mais tarde minha tia chegou.
– Depois de muita burocracia consegui resolver tudo – Ela disse com um ar de estresse.
– E o que acontece agora?
– Bom... A principio como você é a única filha consequentemente se torna a única herdeira, porem como você não completou 18 anos, eu como sou sua tutora irei administrar tudo isso até você se tornar maior, quando isso acontecer você poderá fazer o que quiser.
– E meu pai?
– Rute se casou com separação de bens, a casa e herança dos nossos pais pra ela, o carro por enquanto está no nome dela, e o dinheiro foi depositado numa conta poupança no seu nome. Portanto...
– Qual é o valor do montante na conta?
– Somando a partir dos seus 3 anos de idade até hoje, o montante até agora é de R$ 257 mil e 16 centavos.
– Como? O valor é muito...
– Alto? Sim, mas não pense que vem de algo ilícito, sua mãe só não mexeu na herança que papai deixou.
Era difícil de acreditar no que estava acontecendo, mas sim, minha mãe pensou em tudo.
– Podemos dizer que você tem uma pequena fortuna... Bom, agora que fizemos tudo que tínhamos pra fazer podemos ir embora?
Era informação de mais para absorver ao mesmo tempo em que me sentia aliviada, batia um medo da responsabilidade. Até ontem eu faria tudo para acelerar o tempo e o ano passar depressa, mas hoje eu rezo para ir se arrastando.
– Sim, podemos!
FIM DO CAPITULO 5


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA



CAPÍTULO 4

                Hoje maquiagem nenhuma parou no meu rosto, esta madrugada eu passei em claro, exausta, mas sem vontade de dormir, fui capaz de devorar um livro de 300 paginas só para controlar minha angustia, só para a saudade não corroer tanto. Se ela estive aqui teria me prendido em seus braços e soltado somente quando meu pranto estivesse afagado, teria enxugado minhas lágrimas, penteados meus cabelos e beijado minha face.
Mãe que saudade! Que saudade que eu sinto! Que falta você me faz! Está tão difícil sem você! Preciso de você... Preciso de você nem que seja pra te ver de longe... Nem que seja pra te ver bem... Nem que seja pra te ver sorrindo pela ultima vez...
Definitivamente não estou bem para escrever, mas não tenho outra coisa para fazer que não seja isto, pois as palavras são minhas válvulas de escape, minha alternativa para não enlouquecer.
Essa manhã foi mais difícil para manter a sanidade, todos estavam ausentes, Carlinhos foi ao colégio, Lucas mal tomou o café para ir à faculdade, no máximo disse bom dia, o Ricardo foi o primeiro a sair, por pouco não me pega aos prantos andando pela casa, já a tia Sandra insistiu em ficar comigo, mas consegui ser convincente quando disse que eu ia ficar bem, contudo ela não conseguiu esconder sua chateação desde a noite passada.
O Ricardo não retornou para casa com os meninos, Lucas disse a Sandra que seu pai estava preocupado de mais com os problemas do banco então foi direto para o trabalho. Ela ficou inquietante a noite toda e foi nessa tensão que descobri seu vício por tabaco.
Eram dez pra meia noite, quando ele chegou, estava deitada no colchonete que minha tia adaptou na sala, fechei os olhos para evitar apresentações, senti a sensação de ser observada por ele, mas logo ouvi seus passos se distanciarem.
Quando eu pensava que a noite seria serena somente com som da chuva, comecei a testemunhar a discussão do casal no primeiro andar. A voz dela estava alterada e repetia diversas vezes “Você não pode estar fazendo isso comigo de novo, você me prometeu que não faria mais”. Ele quase não falava.
Não conseguia mais ficar deitada ouvindo tudo aquilo. Enrolei-me na manta e corri para varanda e lá me encolhi. Aquelas vozes ficaram na minha mente assim com as vozes do meu pai, gritando com minha mãe, usando palavras de baixo calão para ofendê-la.
Corrompido pelo álcool e completamente fora de si, destruiu a inocência de uma criança com violência gratuita. A beleza na minha mãe ficava escondida atrás dos hematomas que ele deixava em seu corpo, mas a maior tristeza dela eram as marcas que essa violência ia deixar na criança.
Ela pelo menos tentou.
Eu vacilei, deixei que Lucas me encontra-se, maldita lágrima que fora aparecer.
– Tudo bem com você? – A voz dele estava abatida, diferente da voz que conhecia.
– Estou bem, Obrigada – Fui curta e grossa, não podia passar a impressão de uma fracote, não para ele.
 Levantei-me desengonçada e ele continuou a falar.
– Eu não gosto quando isso acontece... Então eu pulo a janela e desço pra cá... Às vezes me sinto um covarde sabia?
Realmente ele é um covarde desde a época que... Deixa pra lá.
– É uma situação chata tenho que concordar – Mantive a frieza.
– Você está diferente? Mas eu não sei o que mudou? É claro que o visual é algo notório, mas eu falo sobre a Ana, a Ana de algum tempo atrás.
Ele nunca mais verá essa Ana, eu queria dizer isso a ele, mas a forma como me olhava, me congelou, era o mesmo olhar daquela tarde de verão, aquela mesma tarde que eu jurei esquece-lo. Droga! O que eu estou dizendo... Não é possível que ele ainda mexa comigo depois de tudo que fez. Inferno!
– Estou com sono, boa noite!
Não olhei para ele, não ia conseguir mesmo.
Provavelmente Lucas ficou chateado... É ele ficou. Talvez eu tenha sido um pouco... Hostil? Talvez! Ele me usou pra chacota na frente de todos, me fez acreditar que estava apaixonado por mim até conseguir um beijo meu pra no final eu descobri que tudo não passou de uma aposta idiota.
Lucas merecia todo meu rancor e hostilidade, mas ele só queria esquecer toda aquela discussão, ele só queria conversar com alguém... Ele só queria conversar comigo. Eu fui péssima e infantil.
Eu já sei! Irei falar com ele, me desculpar, não quero ficar com a consciência pesada.


FIM DO CAPITULO 4


domingo, 3 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 3

                Hoje precisei acordar mais cedo, pois todos os domingos minha tia Sandra resolve ir para a academia, segundo ela.
Não foi nenhum problema ter que levantar... Porque ontem foi um porre ficar dentro de casa assistindo ela fazer cookies e tagarelar sobre o capitulo da novela – Isso não é um tipo de entretenimento que eu curto, se tivesse uma bateria com certeza eu estava me divertindo – Logo pela manhã enquanto dirigia, ela tentou iniciar um dialogo.
                – O que você gosta de fazer pela manhã Ana? – Ela ainda não sabe, mas eu não sou mais Ana.
                – Eu acostumava correr pelo calçadão da praia nos finais de semana, de um ano pra cá eu tenho ficado mais em casa – Ela esperava que eu continuasse, então encontrei o momento oportuno – Posso te pedir uma coisa?
                – É claro! – Ela respondeu esperando algo muito importante digno de atenção.
                – Depois de tudo que aconteceu, todo o horror que eu vivi, gostaria de esquecer meu passado e principalmente minha identidade patética – Sandra ficou me fitando esperando o desfecho dessa conversa – Em fim, eu gostaria muito que a partir hoje eu fosse chamada de Rebeca... Por favor, não problematize as coisas, somente... Respeite minha escolha – Ela fitou a avenida inerte, como se estive pensando no que ia dizer.
                Meio minuto depois ela, ainda fintando a avenida diz que tudo bem, mas que eu teria que ter paciência, pois precisaria de tempo para se acostumar com a ideia. Pra mim tudo bem... Digamos que eu esperava outra reação dela como, por exemplo, a sugestão de procurar um psicólogo por pensar que minha ideia é equivoco de adolesceste em crise.
                Nossa manhã na academia foi descontraída em alguns momentos ela me chamava de Ana, mas logo corrigia. Porem quando me apresentou para suas amigas ela fez questão de acertar meu novo nome. Para mim foi ótimo, pois parecia que ela estava disposta a me respeitar e não ficar me rondando.
                Fomos ao shopping a convite de Suzana – Minha tia disse ser administradora de finanças onde meu tio Ricardo trabalha – Enquanto passávamos pelas lojas de grife, Suzana tagarelava sobre sua viagem que fizera à França em comemoração a suas bodas de zinco – Assunto chato, quando uma perua quer exibir seus patrimônios e os milhões da conta bancária, nem minha tia aquentava a conversa fiada – Foi eu entrar na loja “The Rolling Stones” que a megera engoliu a língua.
                A repulsa nos olhos de Suzana pela moda gótica e hardcore eram colírios, me divertir com isso era inevitável. Praticamente todas as peças da loja tinham estampas de caveiras, vampiros, gárgulas, guitarras, crucifixos e outras coisas do ramo. Experimentei quase todas as peças e objetos da loja e de tempos em tempos eu olhava para a mulherzinha que corroía as unhas de agonia.
                Foi um dia gratificante, não pensei que a tia Sandra fosse tão decolada, teve momentos que a peguei experimentando umas pulseiras do Iron Maiden, ri de mais. Suzana não aguentou muito, usou como desculpa uma ligação que recebeu para se mandar, melhor assim.
                Estávamos voltando para casa em um clima de humor muito bom, minha tia falava algo sobre o estilo de roupas que eu estava usando e revelou que em sua adolescência não era diferente, disse que ela e minha mãe foram no show de David Bowie onde elas beijaram os meninos mais bonitos do colégio.
                Sandra parecia uma garotinha de 12 anos quando sorria ao se lembrar da irmã feliz e cheia de vida, não fiquei chateada por citar o nome de minha mãe, pois eu tinha algo que provava que ela foi feliz um dia.
                Chegamos em casa e não estamos mais sozinhas, o som alto no primeiro andar da casa indicava isso. Era obvio que eles voltaram e que iriam estranhar a nova hospede, eu já sabia que isso ia acontecer a qualquer momento, só não sabia que eu ia me sentir tão intimidada, talvez a Ana, mas a Rebeca? Como vou olhar para o Ricardo e o Carlinhos sem me sentir uma intrusa? Como vou olhar para o Lucas e dizer que eu não consegui cumprir minha promessa de nunca mais olhar na cara dele?
                Hora de levantar a cabeça!

FIM DO CAPITULO 3


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 2

                Ontem enquanto nós íamos para São Paulo eu tinha certeza que minha tia Sandra encheria minha paciência falando que tudo ficaria bem, que não teria que me preocupar com nada, que a casa dela também era minha e bla, bla e bla. Bom... Eu estava errada, o silêncio dela era angustiante, a tentativa de esconder sua dor era péssima, mas fico me perguntando se o sofrimento dela é de culpa por ter esquecido sua irmã doente, sabendo que ela precisava de apoio, talvez ela me conte amanhã, depois de amanhã ou... Talvez nem me conte! O motivo que levou ela a esquecer de que tinha uma irmã.
                Tenho todos os motivos pra jogar na cara da minha tia a culpa pela morte de minha mãe, pois foi por acreditar que a família a abandonou que e minha mãe desistiu da vida, mas eu não vou fazer isso, tenho certeza que ela já se culpa por isso e do contrário de mim, por mais que meu coração esteja defasado, meu sofrimento é só meu e também não quero que acreditem que me dando abrigo vai inibir toda essa culpa.
                Sandra está casada com Ricardo, ele é bancário tem 46 anos e tem dois filhos, o Lucas do primeiro casamento e o Carlinhos que ele teve com ela, mas isso não é importante já que todos eles vivem mais fora do país do que junto com a mãe, se bem que parece que eles vão voltar de uma viagem agora, talvez seja por esse motivo que houve oscilações de humor por parte da minha tia que falou mais hoje do que ontem no carro.
                Foi disponibilizado um espaço no quarto do Carlinhos, mas um garoto de 14 anos parece ser mais exigente do que um adulto, por isso insisti para ela me deixar ficar na sala até o quarto de hospede ficar pronto, não quero invadir a fase de puberdade do garoto. Enquanto eu vou improvisando, Sandra corre atrás da minha transferência escolar, ela adiantou que eu vou ter que refazer o 3º ano, isso não é novidade já que precisei estar ausente dos estudos para ficar mais próxima de minha mãe.
                Vou ter que respirar fundo e recomeçar tudo de novo... Que seja!

FIM DO CAPITULO 2 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 1

Já faz duas horas que sepultei minha amada mãe que lutou dois anos contra a leucemia. Ela me fez acreditar que não perderia a formatura da Ana, mas ela mentiu. Se bem que agora não faz nenhuma diferença já que a chorona e idiota da Ana não vai se formar, pois eu faço questão de enterrar ela junto.
Agora que a Ana morreu, quero deixar para trás o coral da igreja, as horas intermináveis na biblioteca, as vestes do século XIX e aquele colégio de idiotas que infernizaram minha vida por quase uma década, pois é há duas horas eu era a Ana Julia de Alcântara Bispo, uma toupeira desengonçada que não conseguiu ser invisível para os ignorantes dessa ridícula cidade, mas sinto que as coisas vão mudar... Pelo menos para a Rebeca Vieira. De fato meu registro vai continuar como Ana, mas todos iram conhecer a Rebeca, vai por mim a Ana não tem nada a acrescentar.
Infelizmente ainda tenho dezessete anos e o juiz decidiu dar a minha guarda provisória para meus tios, já que o alcoólatra do meu pai desapareceu. Um ano, somente um ano eu tenho para planejar o que vou fazer daqui pra frente, que os hipócritas dos meus primos não peguem no meu pé.
Até que o café servido aqui nessa lanchonete não é dos piores, vai me dar um “Up” para aguentar às duas horas de viagem para São Paulo... É... Lá será minha morada durante um ano.


FIM DO CAPITULO 1






sábado, 7 de setembro de 2013

Cartão Postal

Cartão Postal: POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA

Malas prontas, mas eu não sabia que direção tomar,
Olhei para trás e não encontrei um motivo para ficar,
Perdoei todos os seus erros, mas traição não da pra suportar,
Chorei hoje, mas amanhã é você quem vai chorar.

Peguei um voo com destino a qualquer lugar,
Não te disse, mas é um que eu vivi a sonhar,
Lá tem a mãe natureza pra me abraçar,
E uma segunda chance pra recomeçar.

Confesso que foi difícil te esquecer,
Pois levei alguns meses pra entender,
Que com você eu só tinha a perder,
Mas obrigado por me ensinar a me surpreender.

Hoje sou uma pessoa melhor,
Aprendi a me amar e me valorizar,
Por isso lhe envio um cartão postal,
Como prova de que meu sonho eu pude realizar.

Uma vida de luta é uma vida de conquistas,
Prol a perseverança e a humildade,
...Que não lhe falte.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dadiva

Dadiva: POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA

Minha dadiva é Imaginar você comum, mas ainda ser único,
Criar você perfeito, mesmo sem eu conhecer o certo,
Fazer com que você tenha tudo que eu desejo, só porque eu quero.
Eu aqui temendo a Deus e você só aproveitando minhas tentações,
Mas confesso que é você que evita minhas frustrações.

Quero sua felicidade... Pois ela é minha esperança,
Mas às vezes quero torturar seus desejos,
Pois a intensidade deles me traz insegurança,
E inseguro me torturo com a realidade e me iludo em mais devaneios.

Então vem outra dose de você.

Eu Incompleto... Totalmente... Incompleto e rotativo.


Afagando as magoas com um imaginário completamente subjetivo.