POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA
CAPÍTULO 3
Hoje precisei acordar mais cedo, pois todos os domingos minha tia
Sandra resolve ir para a academia, segundo ela.
Não foi nenhum
problema ter que levantar... Porque ontem foi um porre ficar dentro de casa
assistindo ela fazer cookies e tagarelar sobre o capitulo da novela – Isso não
é um tipo de entretenimento que eu curto, se tivesse uma bateria com certeza eu
estava me divertindo – Logo pela manhã enquanto dirigia, ela tentou iniciar um
dialogo.
–
O que você gosta de fazer pela manhã Ana? – Ela ainda não sabe, mas eu não sou
mais Ana.
–
Eu acostumava correr pelo calçadão da praia nos finais de semana, de um ano pra
cá eu tenho ficado mais em casa – Ela esperava que eu continuasse, então
encontrei o momento oportuno – Posso te pedir uma coisa?
–
É claro! – Ela respondeu esperando algo muito importante digno de atenção.
–
Depois de tudo que aconteceu, todo o horror que eu vivi, gostaria de esquecer
meu passado e principalmente minha identidade patética – Sandra ficou me
fitando esperando o desfecho dessa conversa – Em fim, eu gostaria muito que a partir
hoje eu fosse chamada de Rebeca... Por favor, não problematize as coisas,
somente... Respeite minha escolha – Ela fitou a avenida inerte, como se estive
pensando no que ia dizer.
Meio
minuto depois ela, ainda fintando a avenida diz que tudo bem, mas que eu teria
que ter paciência, pois precisaria de tempo para se acostumar com a ideia. Pra
mim tudo bem... Digamos que eu esperava outra reação dela como, por exemplo, a
sugestão de procurar um psicólogo por pensar que minha ideia é equivoco de adolesceste
em crise.
Nossa
manhã na academia foi descontraída em alguns momentos ela me chamava de Ana,
mas logo corrigia. Porem quando me apresentou para suas amigas ela fez questão
de acertar meu novo nome. Para mim foi ótimo, pois parecia que ela estava
disposta a me respeitar e não ficar me rondando.
Fomos
ao shopping a convite de Suzana – Minha tia disse ser administradora de finanças
onde meu tio Ricardo trabalha – Enquanto passávamos pelas lojas de grife, Suzana
tagarelava sobre sua viagem que fizera à França em comemoração a suas bodas de zinco
– Assunto chato, quando uma perua quer exibir seus patrimônios e os milhões da
conta bancária, nem minha tia aquentava a conversa fiada – Foi eu entrar na
loja “The Rolling Stones” que a megera engoliu a língua.
A
repulsa nos olhos de Suzana pela moda gótica e hardcore eram colírios, me
divertir com isso era inevitável. Praticamente todas as peças da loja tinham
estampas de caveiras, vampiros, gárgulas, guitarras, crucifixos e outras coisas
do ramo. Experimentei quase todas as peças e objetos da loja e de tempos em
tempos eu olhava para a mulherzinha que corroía as unhas de agonia.
Foi
um dia gratificante, não pensei que a tia Sandra fosse tão decolada, teve
momentos que a peguei experimentando umas pulseiras do Iron Maiden, ri de mais.
Suzana não aguentou muito, usou como desculpa uma ligação que recebeu para se
mandar, melhor assim.
Estávamos
voltando para casa em um clima de humor muito bom, minha tia falava algo sobre o
estilo de roupas que eu estava usando e revelou que em sua adolescência não era
diferente, disse que ela e minha mãe foram no show de David Bowie onde elas
beijaram os meninos mais bonitos do colégio.
Sandra
parecia uma garotinha de 12 anos quando sorria ao se lembrar da irmã feliz e
cheia de vida, não fiquei chateada por citar o nome de minha mãe, pois eu tinha
algo que provava que ela foi feliz um dia.
Chegamos
em casa e não estamos mais sozinhas, o som alto no primeiro andar da casa
indicava isso. Era obvio que eles voltaram e que iriam estranhar a nova hospede,
eu já sabia que isso ia acontecer a qualquer momento, só não sabia que eu ia me
sentir tão intimidada, talvez a Ana, mas a Rebeca? Como vou olhar para o
Ricardo e o Carlinhos sem me sentir uma intrusa? Como vou olhar para o Lucas e
dizer que eu não consegui cumprir minha promessa de nunca mais olhar na cara
dele?
Hora
de levantar a cabeça!
FIM DO CAPITULO 3
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