terça-feira, 26 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 7

                São cinco e meia da manhã, Sandra me avisou que acordaríamos cedo, só não sabia que seria tão cedo, até o sol está dormindo, mas tudo bem; vamos lá, vamos levantar. Hoje será um grande dia, disse minha tia, irei trabalhar com ela no Buffet, rodaremos a cidade para visitar algumas clientes importantes e voltaremos somente ao entardecer. Ainda bem que o dia será de sol, assim afirma a simpática apresentadora do telejornal.
                A um grande tumulto nos corredores de casa, é Lucas gritando para Carlinhos sair logo do banheiro, Ricardo perguntando a Sandra onde ele deixou a gravata, Sandra vestindo sua camisa enquanto faz o café da manhã, depois gritando para Carlinhos não enrolar no banho e mostrando que a gravata de Ricardo está no pescoço dele. Agora eu entendo o porquê de acordar tão cedo.
Peguei a espátula da mão de minha tia e terminei de fritar os ovos, de passar o café e de espremer o suco de laranja do Carlinhos, com isso Sandra pode terminar de se vestir. Estava terminando de arrumar a mesa quando Lucas apareceu e me beijou na bochecha.
– Beck! Você pode me ajudar? – Ele estendeu os dois braços para que eu abotoasse os botões da manga.
– Vai a algum culto vestido assim?
– Quase isso! Apresentação do TCC! – Ele levou a brincadeira na esportiva.
– Vai se formar em quê?
– Direito – Ele não parecia empolgado.
– Pensei que queria ser músico? – Lembro que ele me falou sobre isso numa noite, depois do jantar em uma das muitas vezes que ele nos visitou em Peruíbe.
– Eu não desisti da música, Direito é só um... Adicional.
Enxuguei as mãos em um pano de prato e comecei a abotoar a primeira manga. Dei uma olhadela para ele e, lá estava seu sorriso discreto e seus lindos olhos me fitando – Lucas é tão alto que minha cabeça não passa de seu peito que por sinal... Está perto demais.
– Pronto! – Disse me afastando de seu delicioso perfume.
– Falta a outra! – Lembrou-me com aquele sorrisinho de novo.
Puxei seu braço pela manga da camisa com certa rudeza e abotoei, arquejando e fitando seu rosto debochado.
– Não falta mais.
Virei às costas para Lucas e fiquei trocando os objetos na mesa só para parecer que eu estava ocupada de mais para dar atenção, mas ele continuou parado, até que começou.
– Não acredito! Morangos! Eu adoro morangos!
Ele pegou dois morangos e abocanhou metade de um.
– Está uma delicia, coma um! – Ele empurrava o outro morango que pegou para minha boca.
– Agora não, vou esperar os outros.
– Qual é o problema Beck? Tem uma caixa cheia, ninguém vai se importar se você comer um antes.
– Está legal! Só um e você me deixa em paz! Ok?
Lucas era um idiota, fez aviãozinho com a fruta e depois puxou de volta.
– Espera! Vou colocar um pouco de mel, isto vai ficar uma delicia – O garoto ria como um perfeito idiota mesmo – Mmmm! Agora sim! Abre o bocão.
– Acaba logo com isso!
– Quietinha! – Eu não acredito que ele estava fazendo isso, sério...
A idiotice do aviãozinho de novo e o obvio aconteceu, o babaca não me deu o morango e engoliu a fruta de uma só vez.
– Eu tinha razão, estava uma delícia – Lucas dava gargalhadas.
– Há, há, há. Que engraçado juro que vou rir até amanhã.
– Pode ser, mas eu tenho uma ideia melhor – Agora ele coloca as mãos na minha silhueta. Meu corpo tremeu.
– Esteja bem bonita hoje à noite, vamos sair.
– Não acho que seja uma boa ideia! – O que será que ele está aprontando? Não confio nele, só penso no dia em que ele contribui com a piada de mau gosto daqueles moleques patéticos.
 – Quem disse que é um pedido? – Ele não me deu a chance de resposta, simplesmente virou as costas e saiu.
Eu não demorei em me arrumar, coloquei meu All Star preto de cano longo, uma saia colegial de listras vermelhas e pretas e uma camiseta, também preta sem estampa. Deixei meus cabelos soltos e úmidos e fiz minha maquiagem de costume.
Lucas pegou carona com o pai – Vendo um ao lado do outro eu não sabia dizer qual dos dois era o mais bonito, pois mesmo Ricardo tendo seus quarenta e poucos anos, ninguém diria que ele é o pai de Lucas, no máximo diriam que é um irmão mais velho – Eles entraram no carro, mas antes de partir Lucas disse “Não esqueça o que eu te disse”.
                Realmente não consegui esquecer o atrevimento de Lucas, toda vez que me lembro do convite começo a rir para eu mesma como uma boba alegre... Como uma garotinha apaixo... Não quero nem pensar nessa palavra, nem vou pensar nessa palavra. Tenho sorte que a Sandra tem muita coisa pra fazer e consequentemente eu também.
                Deixamos Carlinhos no colégio, depois fomos direto para o Buffet – Sandra já tinha seis filiais espalhadas pela capital, mas fomos para a matriz aqui mesmo no Alphaville – Ela me disse que  acertou em cheio quando escolheu trabalhar com eventos, ela não quis dizer quanto lucra, mas ouvi uma recepcionista no telefone dizer para um cliente que só tem agendamento disponível para daqui um trimestre, o mais incrível é que o cliente aceitou e fechou uma festa infantil por 20 mil reais. Em menos de uma hora a recepcionista fez no mínimo cinco agendamentos o ultimo foi um casamento que custou no mínimo 100 mil reais.
                Difícil de acreditar, mas as pessoas aqui gastam muito dinheiro só pra alimentar as lombrigas dos playboyzinhos. É hipocrisia eu falar já que agora eu faço parte do mundo deles. Só espero não me tornar uma alienada como muitos... Terei sempre que me lembrar de quem eu sou e o que realmente importa pra mim.
                Prosseguimos com nossas tarefas, encontramos quem tínhamos que encontrar, conversamos, quer dizer, Sandra conversou, porque como sempre minhas roupas causaram repulsa nos olhos dessa socialite metida a besta, mas eu não estou nem aí com essa gente, só quero ser uma ótima companhia para minha tia e ponto final.
                O dia realmente foi cansativo, mas eu não podia nem pensar que ele acabou já que a noite ainda iria começar. Poderia dizer a Lucas que estou muito exausta e então cancelar o compromisso, “só que não”, preciso dessa noite, não que Lucas tem haver com alguma coisa porque ele não tem. Sou uma pessoa movida à música, a uma multidão de pessoas completamente desconhecidas que não querem nem saber como o resto do mundo está ou como vai ser quando o novo dia começar. Que o mar pegue fogo para eu comer baleia assada, hoje todos meus martírios vão ficar em casa.
                – Você está linda Beck! – Disse Lucas.
                Nisso eu tinha que concordar, eu estava linda, não porque eu estava me sentindo ótima no meu jeans básico, na minha Baby Look branca como uma estampa multicolorida, e aquele All Star branco que rabisquei qualquer coisa que não faz sentido pra ninguém, mas pelo fato de que pela primeira vez depois que minha mãe se foi, eu estou me sentindo livre de verdade, aceitando o que aconteceu esses últimos meses. Sempre vou sentir saudades da minha mãe, mas só vou lembrar as coisas boas que a gente viveu, pois sinto que estando em paz, mesmo com a ausência dela é como se eu tivesse libertando ela pra ficar em paz nos céus.
                 Eu te amo mãe... E sei que nunca ficarei sozinha.
                Lucas não diz mais nada só me estende a mão, que diz muita coisa.
                “Vem que eu te protejo”
                Eu agarro a mão dele com toda firmeza e deixo que me leve.


FIM DO CAPITULO 7


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