POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA
CAPÍTULO 4
Hoje maquiagem nenhuma parou no
meu rosto, esta madrugada eu passei em claro, exausta, mas sem vontade de
dormir, fui capaz de devorar um livro de 300 paginas só para controlar minha
angustia, só para a saudade não corroer tanto. Se ela estive aqui teria me
prendido em seus braços e soltado somente quando meu pranto estivesse afagado,
teria enxugado minhas lágrimas, penteados meus cabelos e beijado minha face.
Mãe que saudade! Que saudade que eu sinto! Que falta você me faz! Está
tão difícil sem você! Preciso de você... Preciso de você nem que seja pra te ver
de longe... Nem que seja pra te ver bem... Nem que seja pra te ver sorrindo
pela ultima vez...
Definitivamente não estou bem para escrever, mas não tenho outra coisa
para fazer que não seja isto, pois as palavras são minhas válvulas de escape,
minha alternativa para não enlouquecer.
Essa manhã foi mais difícil para manter a sanidade, todos estavam
ausentes, Carlinhos foi ao colégio, Lucas mal tomou o café para ir à faculdade,
no máximo disse bom dia, o Ricardo foi o primeiro a sair, por pouco não me pega
aos prantos andando pela casa, já a tia Sandra insistiu em ficar comigo, mas
consegui ser convincente quando disse que eu ia ficar bem, contudo ela não
conseguiu esconder sua chateação desde a noite passada.
O Ricardo não retornou para casa com os meninos, Lucas disse a Sandra
que seu pai estava preocupado de mais com os problemas do banco então foi
direto para o trabalho. Ela ficou inquietante a noite toda e foi nessa tensão
que descobri seu vício por tabaco.
Eram dez pra meia noite, quando ele chegou, estava deitada no colchonete
que minha tia adaptou na sala, fechei os olhos para evitar apresentações, senti
a sensação de ser observada por ele, mas logo ouvi seus passos se distanciarem.
Quando eu pensava que a noite seria serena somente com som da chuva, comecei
a testemunhar a discussão do casal no primeiro andar. A voz dela estava
alterada e repetia diversas vezes “Você não pode estar fazendo isso comigo de
novo, você me prometeu que não faria mais”. Ele quase não falava.
Não conseguia mais ficar deitada ouvindo tudo aquilo. Enrolei-me na
manta e corri para varanda e lá me encolhi. Aquelas vozes ficaram na minha mente
assim com as vozes do meu pai, gritando com minha mãe, usando palavras de baixo
calão para ofendê-la.
Corrompido pelo álcool e completamente fora de si, destruiu a inocência
de uma criança com violência gratuita. A beleza na minha mãe ficava escondida atrás
dos hematomas que ele deixava em seu corpo, mas a maior tristeza dela eram as
marcas que essa violência ia deixar na criança.
Ela pelo menos tentou.
Eu vacilei, deixei que Lucas me encontra-se, maldita lágrima que fora
aparecer.
– Tudo bem com você? – A voz dele estava abatida, diferente da voz que
conhecia.
– Estou bem, Obrigada – Fui curta e grossa, não podia passar a
impressão de uma fracote, não para ele.
Levantei-me desengonçada e ele
continuou a falar.
– Eu não gosto quando isso acontece... Então eu pulo a janela e desço
pra cá... Às vezes me sinto um covarde sabia?
Realmente ele é um covarde desde a época que... Deixa pra lá.
– É uma situação chata tenho que concordar – Mantive a frieza.
– Você está diferente? Mas eu não sei o que mudou? É claro que o visual
é algo notório, mas eu falo sobre a Ana, a Ana de algum tempo atrás.
Ele nunca mais verá essa Ana, eu queria dizer isso a ele, mas a forma como
me olhava, me congelou, era o mesmo olhar daquela tarde de verão, aquela mesma
tarde que eu jurei esquece-lo. Droga! O que eu estou dizendo... Não é possível que
ele ainda mexa comigo depois de tudo que fez. Inferno!
– Estou com sono, boa noite!
Não olhei para ele, não ia conseguir mesmo.
Provavelmente Lucas ficou chateado... É ele ficou. Talvez eu tenha sido
um pouco... Hostil? Talvez! Ele me usou pra chacota na frente de todos, me fez acreditar
que estava apaixonado por mim até conseguir um beijo meu pra no final eu
descobri que tudo não passou de uma aposta idiota.
Lucas merecia todo meu rancor e hostilidade, mas ele só queria esquecer
toda aquela discussão, ele só queria conversar com alguém... Ele só queria
conversar comigo. Eu fui péssima e infantil.
Eu já sei! Irei falar com ele, me desculpar, não quero ficar com a consciência
pesada.
FIM DO CAPITULO 4
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