quarta-feira, 6 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA



CAPÍTULO 4

                Hoje maquiagem nenhuma parou no meu rosto, esta madrugada eu passei em claro, exausta, mas sem vontade de dormir, fui capaz de devorar um livro de 300 paginas só para controlar minha angustia, só para a saudade não corroer tanto. Se ela estive aqui teria me prendido em seus braços e soltado somente quando meu pranto estivesse afagado, teria enxugado minhas lágrimas, penteados meus cabelos e beijado minha face.
Mãe que saudade! Que saudade que eu sinto! Que falta você me faz! Está tão difícil sem você! Preciso de você... Preciso de você nem que seja pra te ver de longe... Nem que seja pra te ver bem... Nem que seja pra te ver sorrindo pela ultima vez...
Definitivamente não estou bem para escrever, mas não tenho outra coisa para fazer que não seja isto, pois as palavras são minhas válvulas de escape, minha alternativa para não enlouquecer.
Essa manhã foi mais difícil para manter a sanidade, todos estavam ausentes, Carlinhos foi ao colégio, Lucas mal tomou o café para ir à faculdade, no máximo disse bom dia, o Ricardo foi o primeiro a sair, por pouco não me pega aos prantos andando pela casa, já a tia Sandra insistiu em ficar comigo, mas consegui ser convincente quando disse que eu ia ficar bem, contudo ela não conseguiu esconder sua chateação desde a noite passada.
O Ricardo não retornou para casa com os meninos, Lucas disse a Sandra que seu pai estava preocupado de mais com os problemas do banco então foi direto para o trabalho. Ela ficou inquietante a noite toda e foi nessa tensão que descobri seu vício por tabaco.
Eram dez pra meia noite, quando ele chegou, estava deitada no colchonete que minha tia adaptou na sala, fechei os olhos para evitar apresentações, senti a sensação de ser observada por ele, mas logo ouvi seus passos se distanciarem.
Quando eu pensava que a noite seria serena somente com som da chuva, comecei a testemunhar a discussão do casal no primeiro andar. A voz dela estava alterada e repetia diversas vezes “Você não pode estar fazendo isso comigo de novo, você me prometeu que não faria mais”. Ele quase não falava.
Não conseguia mais ficar deitada ouvindo tudo aquilo. Enrolei-me na manta e corri para varanda e lá me encolhi. Aquelas vozes ficaram na minha mente assim com as vozes do meu pai, gritando com minha mãe, usando palavras de baixo calão para ofendê-la.
Corrompido pelo álcool e completamente fora de si, destruiu a inocência de uma criança com violência gratuita. A beleza na minha mãe ficava escondida atrás dos hematomas que ele deixava em seu corpo, mas a maior tristeza dela eram as marcas que essa violência ia deixar na criança.
Ela pelo menos tentou.
Eu vacilei, deixei que Lucas me encontra-se, maldita lágrima que fora aparecer.
– Tudo bem com você? – A voz dele estava abatida, diferente da voz que conhecia.
– Estou bem, Obrigada – Fui curta e grossa, não podia passar a impressão de uma fracote, não para ele.
 Levantei-me desengonçada e ele continuou a falar.
– Eu não gosto quando isso acontece... Então eu pulo a janela e desço pra cá... Às vezes me sinto um covarde sabia?
Realmente ele é um covarde desde a época que... Deixa pra lá.
– É uma situação chata tenho que concordar – Mantive a frieza.
– Você está diferente? Mas eu não sei o que mudou? É claro que o visual é algo notório, mas eu falo sobre a Ana, a Ana de algum tempo atrás.
Ele nunca mais verá essa Ana, eu queria dizer isso a ele, mas a forma como me olhava, me congelou, era o mesmo olhar daquela tarde de verão, aquela mesma tarde que eu jurei esquece-lo. Droga! O que eu estou dizendo... Não é possível que ele ainda mexa comigo depois de tudo que fez. Inferno!
– Estou com sono, boa noite!
Não olhei para ele, não ia conseguir mesmo.
Provavelmente Lucas ficou chateado... É ele ficou. Talvez eu tenha sido um pouco... Hostil? Talvez! Ele me usou pra chacota na frente de todos, me fez acreditar que estava apaixonado por mim até conseguir um beijo meu pra no final eu descobri que tudo não passou de uma aposta idiota.
Lucas merecia todo meu rancor e hostilidade, mas ele só queria esquecer toda aquela discussão, ele só queria conversar com alguém... Ele só queria conversar comigo. Eu fui péssima e infantil.
Eu já sei! Irei falar com ele, me desculpar, não quero ficar com a consciência pesada.


FIM DO CAPITULO 4


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