segunda-feira, 11 de novembro de 2013

As escolhas de uma adolescente rebelde

POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA


CAPÍTULO 5

                Dia de sol, quase esqueci como era com toda essa semana de chuva. Sandra e eu concordamos que não tem nada melhor do que um dia de céu azul principalmente hoje que decidimos ir para Peruíbe. Tem algumas coisas na minha casa que eu preciso, e minha tia ficou de apanhar uns documentos para finalizar minha transferência para minha nova escola e outros sobre os bens que minha mãe deixou.
Conversamos muito sobre diversos assuntos, mas ela não comentou nada sobre sua discussão da noite passada, ela parecia ocultar fácil às coisas que a aborrecia - Queria ser forte como ela - Confesso que eu queria saber o que Ricardo fez de tão inaceitável que minha tia não queria que fizesse de novo – No fundo eu já sei, mas não é problema meu, preciso sempre me lembrar disso.
Tudo fluiu perfeitamente nem notei que já estávamos na pacata cidadezinha turística. É época de temporada, as ruas como de costume estão abarrotadas de turistas, o som dos carros são altos – Gosto dessa alegria é uma energia muito boa.
Passamos primeiro na escola, a diretora Carmem demorou pra me reconhecer, mas não a culpo, pois mudei meus longos cabelos castanhos escuros e ondulados para um curto preto e liso, fiz um fino contorno nos olhos com lápis preto e destaquei os cílios com rímel, escondi meus olhos acinzentados atrás das lentes de contato castanho escuro e coloquei um discreto piercing de argola no nariz.
A senhora já de idade não pareceu aprovar minha escolha, me olhou de em cima abaixo, mas sem repulsa.
Deixei as mulheres conversando e fui comprar uma soda limonada o ar estava muito quente e abafado. Enquanto pegava o dinheiro na bolsa os alunos começavam a lotar o pátio foi quando eu a vi do outro lado, sentada sozinha, devorando um gigantesco sanduíche, era ela, Fátima Burd, minha melhor amiga.
Queria falar com ela, mas a ultima vez que nos falamos nossa conversa não foi muito legal, mas a culpa foi minha, fui egoísta e descontei meus problemas nela. Fiquei pensando se teria outra oportunidade de me desculpar com Fátima, conclui que não, pois depois dessa viajem não pretendo voltar aqui tão cedo.
Atravessei o pátio e me sentei na frente dela, mas ela foi agressiva.
– Não tem outro lugar para você sentar pirralha? – Fátima foi mais uma que não me reconheceu
– Não tem Fatinha – Eu era a única que chamava ela assim.
A garota robusta de sardas me fitou e antes que eu pudesse fazer algo ela me esmagou no seu abraço e encharcou meu ombro com suas lágrimas.
Por que ela fez isso? Não está certo, fui estupida e nojenta com ela, se tivesse me esbofeteado eu teria entendido, mas isso...
– O que você está fazendo Fatinha? Ridicularizei você na frente de todos não se lembra?
A garota soltou os braços de mim e se recompôs.
– Eu não vou mentir. Na mesma noite, depois que Lucas fez aquela brincadeira de mau gosto e tudo que você me falou diante de todas aquelas pessoas da escola eu cheguei em casa e comi tudo que tinha na minha frente, faço isso quando estou deprimida...Enfim, depois você não atendeu minhas ligações, não foi mais a escola então fiquei pior e continuem comendo como uma louca até que parei na UTI, quase destruí meu fígado. Hoje estou melhor!
– Mas e agora o que está acontecendo? – Eu fitava o sanduíche dela que parecia mais uma bomba relógio.
– Estou muito nervosa com as provas finais – Talvez não tivesse graça, mas rimos juntas com a situação.
– Fatinha me perdoe por tudo?
– Somos amigas não é verdade? Amigas sempre perdoam... Então está perdoada! Contudo eu te devo desculpas, não fazia ideia que o Lucas faria aquilo, só fiz o que ele me pediu, avisar você de encontra-lo, acredite em mim!
– Eu acredito! – No dia eu estava cega de raiva por isso não considerei as coisas que Fatinha disse.
Tínhamos muitas coisas pra falar, mas o tempo era curto, trocamos telefones e nos despedimos, foi difícil conter a emoção.
Sandra me deixou em casa e correu para o cartório para economizar tempo, pois tínhamos que voltar para São Paulo no mesmo dia, sabendo disso eu peguei somente alguns objetos, como o porta retrato da minha mãe e o violão que meu pai me deu no meu decimo segundo aniversario, deixei para traz as roupas, quem ficaria com toda aquela velharia?
Mais tarde minha tia chegou.
– Depois de muita burocracia consegui resolver tudo – Ela disse com um ar de estresse.
– E o que acontece agora?
– Bom... A principio como você é a única filha consequentemente se torna a única herdeira, porem como você não completou 18 anos, eu como sou sua tutora irei administrar tudo isso até você se tornar maior, quando isso acontecer você poderá fazer o que quiser.
– E meu pai?
– Rute se casou com separação de bens, a casa e herança dos nossos pais pra ela, o carro por enquanto está no nome dela, e o dinheiro foi depositado numa conta poupança no seu nome. Portanto...
– Qual é o valor do montante na conta?
– Somando a partir dos seus 3 anos de idade até hoje, o montante até agora é de R$ 257 mil e 16 centavos.
– Como? O valor é muito...
– Alto? Sim, mas não pense que vem de algo ilícito, sua mãe só não mexeu na herança que papai deixou.
Era difícil de acreditar no que estava acontecendo, mas sim, minha mãe pensou em tudo.
– Podemos dizer que você tem uma pequena fortuna... Bom, agora que fizemos tudo que tínhamos pra fazer podemos ir embora?
Era informação de mais para absorver ao mesmo tempo em que me sentia aliviada, batia um medo da responsabilidade. Até ontem eu faria tudo para acelerar o tempo e o ano passar depressa, mas hoje eu rezo para ir se arrastando.
– Sim, podemos!
FIM DO CAPITULO 5


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