POR THIAGO ARAÚJO PEREIRA
CAPÍTULO 5
Dia de sol, quase esqueci como era com toda essa semana de chuva. Sandra e eu
concordamos que não tem nada melhor do que um dia de céu azul principalmente
hoje que decidimos ir para Peruíbe. Tem algumas coisas na minha casa que eu
preciso, e minha tia ficou de apanhar uns documentos para finalizar minha
transferência para minha nova escola e outros sobre os bens que minha mãe
deixou.
Conversamos muito
sobre diversos assuntos, mas ela não comentou nada sobre sua discussão da noite
passada, ela parecia ocultar fácil às coisas que a aborrecia - Queria ser forte
como ela - Confesso que eu queria saber o que Ricardo fez de tão inaceitável
que minha tia não queria que fizesse de novo – No fundo eu já sei, mas não é
problema meu, preciso sempre me lembrar disso.
Tudo fluiu
perfeitamente nem notei que já estávamos na pacata cidadezinha turística. É
época de temporada, as ruas como de costume estão abarrotadas de turistas, o
som dos carros são altos – Gosto dessa alegria é uma energia muito boa.
Passamos primeiro na
escola, a diretora Carmem demorou pra me reconhecer, mas não a culpo, pois
mudei meus longos cabelos castanhos escuros e ondulados para um curto preto e
liso, fiz um fino contorno nos olhos com lápis preto e destaquei os cílios com
rímel, escondi meus olhos acinzentados atrás das lentes de contato castanho
escuro e coloquei um discreto piercing de argola no nariz.
A senhora já de idade
não pareceu aprovar minha escolha, me olhou de em cima abaixo, mas sem repulsa.
Deixei as mulheres
conversando e fui comprar uma soda limonada o ar estava muito quente e abafado.
Enquanto pegava o dinheiro na bolsa os alunos começavam a lotar o pátio foi
quando eu a vi do outro lado, sentada sozinha, devorando um gigantesco
sanduíche, era ela, Fátima Burd, minha melhor amiga.
Queria falar com ela,
mas a ultima vez que nos falamos nossa conversa não foi muito legal, mas a
culpa foi minha, fui egoísta e descontei meus problemas nela. Fiquei pensando
se teria outra oportunidade de me desculpar com Fátima, conclui que não, pois
depois dessa viajem não pretendo voltar aqui tão cedo.
Atravessei o pátio e
me sentei na frente dela, mas ela foi agressiva.
– Não tem outro lugar
para você sentar pirralha? – Fátima foi mais uma que não me reconheceu
– Não tem Fatinha –
Eu era a única que chamava ela assim.
A garota robusta de
sardas me fitou e antes que eu pudesse fazer algo ela me esmagou no seu abraço
e encharcou meu ombro com suas lágrimas.
Por que ela fez isso?
Não está certo, fui estupida e nojenta com ela, se tivesse me esbofeteado eu
teria entendido, mas isso...
– O que você está
fazendo Fatinha? Ridicularizei você na frente de todos não se lembra?
A garota soltou os
braços de mim e se recompôs.
– Eu não vou mentir.
Na mesma noite, depois que Lucas fez aquela brincadeira de mau gosto e tudo que
você me falou diante de todas aquelas pessoas da escola eu cheguei em casa e
comi tudo que tinha na minha frente, faço isso quando estou deprimida...Enfim,
depois você não atendeu minhas ligações, não foi mais a escola então fiquei
pior e continuem comendo como uma louca até que parei na UTI, quase destruí meu
fígado. Hoje estou melhor!
– Mas e agora o que
está acontecendo? – Eu fitava o sanduíche dela que parecia mais uma bomba
relógio.
– Estou muito nervosa
com as provas finais – Talvez não tivesse graça, mas rimos juntas com a
situação.
– Fatinha me perdoe
por tudo?
– Somos amigas não é
verdade? Amigas sempre perdoam... Então está perdoada! Contudo eu te devo
desculpas, não fazia ideia que o Lucas faria aquilo, só fiz o que ele me pediu,
avisar você de encontra-lo, acredite em mim!
– Eu acredito! – No
dia eu estava cega de raiva por isso não considerei as coisas que Fatinha disse.
Tínhamos muitas
coisas pra falar, mas o tempo era curto, trocamos telefones e nos despedimos,
foi difícil conter a emoção.
Sandra me deixou em
casa e correu para o cartório para economizar tempo, pois tínhamos que voltar
para São Paulo no mesmo dia, sabendo disso eu peguei somente alguns objetos,
como o porta retrato da minha mãe e o violão que meu pai me deu no meu decimo
segundo aniversario, deixei para traz as roupas, quem ficaria com toda aquela
velharia?
Mais tarde minha tia
chegou.
– Depois de muita
burocracia consegui resolver tudo – Ela disse com um ar de estresse.
– E o que acontece
agora?
– Bom... A principio
como você é a única filha consequentemente se torna a única herdeira, porem
como você não completou 18 anos, eu como sou sua tutora irei administrar tudo
isso até você se tornar maior, quando isso acontecer você poderá fazer o que
quiser.
– E meu pai?
– Rute se casou com
separação de bens, a casa e herança dos nossos pais pra ela, o carro por
enquanto está no nome dela, e o dinheiro foi depositado numa conta poupança no
seu nome. Portanto...
– Qual é o valor do
montante na conta?
– Somando a partir
dos seus 3 anos de idade até hoje, o montante até agora é de R$ 257 mil e 16
centavos.
– Como? O valor é
muito...
– Alto? Sim, mas não
pense que vem de algo ilícito, sua mãe só não mexeu na herança que papai deixou.
Era difícil de
acreditar no que estava acontecendo, mas sim, minha mãe pensou em tudo.
– Podemos dizer que
você tem uma pequena fortuna... Bom, agora que fizemos tudo que tínhamos pra
fazer podemos ir embora?
Era informação de
mais para absorver ao mesmo tempo em que me sentia aliviada, batia um medo da
responsabilidade. Até ontem eu faria tudo para acelerar o tempo e o ano passar
depressa, mas hoje eu rezo para ir se arrastando.
– Sim, podemos!
FIM DO CAPITULO 5
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